quarta-feira, 21 de abril de 2010

DESFECHO



Antes era o amor
vaso de cristal;
depois veio a mágoa,
vidro barato de feira,
fazer festa em minha mesa

toalhas puxadas do lado de dentro
cacos para apanhar do lado de fora...

porque teve que ser assim
o desfecho da nossa história?

*

Aíla Sampaio

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Sarça ardente


Viver é susto, surto de melancolia,
relativa alegria do absoluto.
Calçar e descalçar sapatos,
chutar pedras e pegar a estrada
que pode dar em lugar nenhum
ou no lugar exato.

Viver é estar sempre desprevenido
munido somente de algum desejo;
é desmanchar-se dia a dia
como uma manta de que se puxa o fio
com o simples toque dos dedos.


Viver é fazer de todo amor o primeiro,
sem contar dores nem ausências;
é fazer de cada dia o derradeiro
plantar sarças sem querer ardências.


Viver é ancorar um navio em alto mar
e ficar à espera do inusitado
para só então navegar...

domingo, 18 de abril de 2010

Quarto escuro



















Aquele desesperado amor
que para mim era tudo
descansa agora em paz
na solidão do quarto escuro

Acendo a luz e descubro que estou livre:
já não me incomoda se teu olhar jaz
no retrato sobre o criado mudo!

sexta-feira, 9 de abril de 2010

A CÉU ABERTO





Tuas palavras, mais que teus gestos,
cortaram-me em partes desiguais
como um assassinato a sangue frio;

atravessaram meu incerto destino
desviaram-me do caminho
tuas palavras, mais que teu gestos.

Nada fizeste. Mas tudo explodiste
quando disseste que te ias com outra
e que nada mais havia entre nós dois...

Louca fui eu de te amar, nem protesto.
Digo adeus em silêncio, e morro a céu aberto,
sem pensar no que virá depois...