segunda-feira, 21 de junho de 2010

Tumultuado silêncio


As palavras que eu não te disse
insistem em voar da minha boca,
mas são pássaros de asas quebradas
que não vencem a tomenta do tempo;
não permitirei, jamais, que saibas,
sequer que desconfies,
de tão tumultuado silêncio!


Tu só verás orvalho nos meus olhos
como se da noite saídos sem agasalho;
jamais entenderás que são lágrimas.
Foi sempre assim nossa história:
um eterno ir e vir de silêncios e palavras,
um caminho, com muitos desvios,
sem ponto de saída ou chegada.

Parto, agora, de onde nem sei se estive.
Vou sem dizer-te que ainda vive,
como uma flor que no deserto resiste,
o mesmo amor de outrora.

sábado, 19 de junho de 2010

Se é amor


O amor que não pode ser amor
há de ser qualquer coisa permitida.
Há de cavar túneis, criar desvios,
encontrar saídas.
Não há de perecer pelos bares
em copos, taças ou bocas distraídas;
não há de aventurar-se por olhares quaisquer
ou esperar as traças do tempo para morrer.

O amor, se é amor, sempre dá em jeito de ser...

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Narciso


Você nem se preocupou
com a minha dificuldade
de deixar os vícios
nem com os anticorpos que não criei,
Narciso!



Afogou minha imagem, levou meu espelho
e nunca mais se importou com o meu poema
empoeirando na estante do seu escritório,
com o meu coração desbotando no varal
como roupa usada que virou pano de chão.
Não ficarei calada.
Vasculharei os entulhos do seu quintal
e contarei todos os seus segredos a Deus
para que ele faça você engolir o orgulho
e devolver-me os beijos que levou sem minha permissão.






PESADELO





Faz frio, muito frio
quando fico triste.
Tenho até febre
durante a noite que antecede
o desvario completo.
Faz frio e fica escuro o quarto vazio,
com o resto do teu cheiro de mar e ventania
fechando a minha boca
para eu não gritar.


Num impulso, tu agarras os meus cabelos
e me lanças a um fundo abismo
sem se importar com os meus gritos, o meu medo;
já descendo, a roupa ao vento,
eu acordo muda e com frio,
vejo a realidade, seu ar sombrio,
e peço, por tudo, que volte o pesadelo.

VAZIO


Vivo como se não existisses mais,
por isso vejo tudo em preto e branco;
se te encontro, no entanto, renasces
e calas todos os meus ais.
O arco-íris que desenhas no céu
com o teu sorriso
muda o meu rumo, aponta outra estrada;
dá cor aos meus dias 
sem uma só palavra.

domingo, 13 de junho de 2010

O Amor

amor não pode ser só palavra

precisa ser gesto;

ser a realidade com suas cores gris

para preparar o azul da vida...

o amor precisa ser ato

para ser de fato amor!

quinta-feira, 10 de junho de 2010

De mãos dadas


Foi por ti que esperei quando o sol nasceu,
quando ele se pôs, e a noite avançou
sobre o meu desejo.
Foi por ti que eu chamei quando um novo dia veio
e mais tarde a lua o envolveu em penumbra.

Tu chegaste, finalmente, para iluminar
os meus caminhos
e me ajudar a atravessar a aridez do deserto.
Não olhemos para trás.
A ventania decerto
tentará jogar areia nos nossos olhos
e nos cegará.

Sigamos em frente, de mãos dadas,
e esperemos juntos as respostas
às nossas interrogações...
não paremos no meio da estrada,
nem esqueçamos de olhar na mesma direção
se não, moreremos de sede
ou, quem sabe, secos, sem coração...

SEGREDO




Durante muito tempo fiquei calada,
esperando o momento de dizer sem erro
o quanto te amava.
Guardei cada minuto ao teu lado, cada palavra,
como quem guarda a sete chaves uma verdade
que não pode ser revelada.
Disse, enfim, só a ti, o meu segredo;
não sei ainda o que virá pela longa estrada
que se estende entre a tua realidade e o meu desejo.
Tua alma sabe o caminho que te levará até a minha
e meus olhos sabem que nos teus está escrito o meu destino.