quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Quando meu coração fica apertado e não encontra lugar dentro do peito, se esconde nas palavras e grita os seus silêncios...



Aíla Sampaio

Inverdades


Nem sempre o que falo é o que realmente quero dizer. Não minto, mas confesso que, muitas vezes, para me proteger, escondo algumas verdades.


Aíla Sampaio

Rascunhos


Desentendimentos não passados a limpo deixam sempre o amor e a amizade no rascunho... como textos que se escreveram para não serem lidos; como papéis amassados e jogados nos desvãos da alma!
Aíla Sampaio

Teu novo endereço



Já que sempre foste apenas um inquilino, desocupa de vez o meu coração... já coloquei do lado de fora todos os momentos que vivemos. Não esqueça de levá-los e jogá-los na primeira lata de lixo não-reciclável que encontrar... Teu endereço definititivo, a partir de hoje, é a minha indiferença.



Aíla Sampaio

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Tentações

 

Ah, essas tentações que querem que façamos o que dizíamos que nunca iríamos fazer! Logo nós que, seguros, falávamos com soberba - "daquela água nunca beberei" -, nos pegamos com sede e um copo cheio na mão. Ninguém olhando, mas a razão lá dentro brigando com o desejo - uma guerra instalada entre o medo e a vontade. Bebo ou não bebo? Qualquer resposta desenha a curta distância entre o céu e o inferno...
 
Aíla Sampaio
 

sábado, 24 de setembro de 2011

Amenidades




Sem saco pras coisas sérias. Ando carente de amenidades, calçadas largas para andar e conversas de bar. Nada de teorias ou planos. Nem de saudades desgastadas pelo uso. Quero o momento e seu vinho tinto pingando em minha boca o gosto de todos os pecados que ainda vou cometer.




Aíla Sampaio

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Emboscada

Às vezes pensamos que é amor e é só uma emboscada. Armação do destino para nos enrolar, para testar nosso fôlego num mergulho demorado. Imergimos, emergimos e, desfeito pelas ondas revoltas aquele sentimento escorre, vira espuma. Se esfuma diante dos nossos olhos incrédulos. Aí a gente vê que foi só uma emboscada... Amor de verdade é sempre à prova d'água!
Aíla Sampaio

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Eterno...


Quero a tua alegria sincera, a cor de claridade do teu sorriso abrindo as minhas portas... sinto falta até da escuridão que ficava quando ias embora, porque mesmo nela eu conseguia ainda ver cada gesto teu atravessado de verdades que não se desmanchavam na minha ausência.  Não só o que a memória ama fica eterno, Adélia... o que se eterniza é o que não se desfaz nas areias movediças das ausências.

Aíla Sampaio

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Medos



Desata os nós que ataste com as inseguranças, afrouxa os laços que apertaste com as conveniências, quebra as correntes das convicções calcificadas pelo receio de ousar o novo. Nós mesmos erguemos as paredes das prisões em que nos encarceramos e, atrás delas, cultivamos o fantasma do medo para nos proteger de risco de errar, de sofrer...



Aíla Sampaio

É pelo olhar que as almas se encontram e se entrelaçam como fios da mesma teia.

Aíla Sampaio

A vida

(Par de Botas - Van Gogh)

Descalcemos as botas lamacentas da arrogância e pisemos nosso orgulho. Todo sentimento de superioridade inferioriza a alma. Não somos mais nem menos que os outros, somos parte de um todo, uma das células do organismo desse cosmo que agoniza diante dos nossos olhos. Precisamos extirpar o tumor das vaidades, debelar as epidemias de egoísmo e prepotência para que possamos atravessar a vida sem muletas, sem tantos analgésicos e julgamentos. Que nos vejamos no outro e a ele não façamos o que nos machucaria; que possamos atravessar nossos próprios muros e abrir as portas da nossa casa-coração para o pomar que plantamos do lado de fora... Só aí saberemos o resultado das sementes que distribuímos com descuido, enquanto o tempo nos consumia na luta... só aí conheceremos o sabor (acre ou doce) dos frutos que cultivamos. O que somos será sempre resultado do que fomos e fizemos. A vida é inexoravelmente uma via de mão dupla. Não há ida sem retorno.

Aíla Sampaio

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A paixão





A paixão faz com que troquemos as cores, os dias e as horas. Arrebata-nos, tira-nos certos sensos, idiotiza-nos, por vezes. Isso é maravilhosamente humano. Por algum tempo nos admitimos surdos, cegos; embevecidos, nos doamos incondicionalmente, mas chega um momento em que as cores recuperam suas matizes, os dias retornam à cronologia do calendário, e os ponteiros do relógio voltam a funcionar em sentido horário...  era só mais um sonho de Ícaro; só mais um sentimento que não resistiu à luz do dia! É lucro não perder o eixo e manter as asas... o resto é sobra de festa, não se faz questão.

Aíla Sampaio

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Vazio



Despossuir-te custou-me a posse de um vazio infinito, de uma solidão incapaz de deixar-me sozinha comigo mesma.
A tua falta me habita como qualquer órgão que me mantém viva na armadura do corpo.



Aíla Sampaio

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Me dou o luxo...



Sou daquelas pessoas que têm a alma distraída e atravessam a vida com confiança, sem medo de cruzar becos escuros e estradas movimentadas... que diz o que sente e sente o que diz, olha no olho e acredita no que ouve, porque não acha que as pessoas tenham razões para mentir ou motivos para enganar... que não sabe representar personagens nem diz sim às tentações narcísicas que alguns minutos de sucesso põem à mesa. Nessa imperfeição toda de quem tem o coração à mostra num mundo tão doente, já pulei muitos muros traiçoeiros, atravessei mares raivosos e venci tempestades. O mais difícil, porém, foi/é sobreviver à fúria dos vaidosos contrariados e às epidemias de falsidades e desamor...

Depois de tantos caminhos percorridos, tantos erros e acertos, me dou o luxo de só ter como amigo quem compreende a língua do coração e sabe ler a poesia da vida, quem tem a alma distraída de maldades; quem é incapaz de uma indelicadeza por palavra, ato ou omissão, quem não concebe a bondade como escambo e se admite falível. Sou muito imperfeita para conviver com os deuses sem maculá-los. Ou com demônios sem não feri-los.


Por isso não me causa nenhuma dor eliminar os atiradores nem os jogadores acostumados a fazer da vida um bingo ou um carteado, não me fere nenhum princípio deixar de acender vela para os falsos santos ou expulsar do meu templo os sepulcros caiados... Tenho muita preguiça pra ser infeliz e falta-me disposição pra viver triste e insatisfeita perto de quem não é falível e maravilhosamente complexo como os seres verdadeiramente humanos. Quem não se sentir elo de corrente que se desgarre... só acredito na vida que se faz pela união, pela compreensão mútua e pelo amor incondicional.
 
Aíla Sampaio

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Desistência



Nunca se desiste totalmente de um amor a quem se disse adeus racionalmente. Fica, em algum compartimento da alma, um desejo de ter tomado a decisão errada; fica no coração uma sala desocupada e silenciosa onde se vela um morto que não pode ser enterrado. 


Aíla Sampaio