quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Sob o signo do efêmero






 Tudo é nosso sempre temporariamente. Já nascemos sob o signo do efêmero e da imprevisibilidade. É a vida, que, como dizia o poeta Júlio Salusse, é "manso lago azul, algumas vezes mar fremente". Que mistério a faz tão mágica e, ao mesmo tempo, tão trágica?

           Como numa gangorra, ora estamos no chão, ora no alto. Do riso faz-se o pranto, como versejou Vinícius; das lágrimas formam-se rios de felicidade. Onde a lógica para tanta mudança de humor e estações? Onde a explicação para as tão enigmáticas estradas que nunca sabemos aonde vão dar? Caminhamos imaginando um destino que só se desenha no limiar do agora.

           Viver será sempre costurar auroras a crepúsculos, mas manter as pontas soltas; será sempre um alinhavo cuja linha pode romper-se a qualquer movimento. Nada dura pra sempre e, se não podemos deter o que há de bom, também teremos prazo para o fim das nossas tragédias íntimas. Se a certeza da fugacidade nos retém às perdas, também dá trégua às nossas dores.
          O grande aprendizado é equilibrar-se nas incertezas; fazer contas que não fecham quando almejamos resultados exatos sem o desespero de ficar, de vez em quando, no vermelho.  Somos tão perecíveis quanto a fruta que espera a dentada (ou o apodrecimento) na fruteira. Temos urgências e desesperos atravancados em longas filas de espera. Como sobreviver a tanto dilaceramento?

          Entendendo que o tempo é HOJE sempre! Vivendo as agruras e as benesses com a mesma coragem e humildade, guardando no coração somente o que foi bom. Não há fórmulas. Há posturas diante dos acontecimentos, aprendizados com a experiência. Só ela nos pode dar discernimento para gritar ou calar; para declarar estado de emergência ou sucumbir de uma vez. Não há livro de autoajuda que nos cure a dor de ter uma alma que não cabe no próprio corpo! Não há existência pacífica... Somente a aceitação da própria condição pode nos impulsionar às mudanças, pois não se cura um mal se ele não for diagnosticado.

          O que fazer, então, nessa fila interminável de esperas que é a vida? Não há outra forma senão viver... um dia de cada vez, de olhos abertos para a luz e sem expectativas! Sem lamentar o trem perdido, o amor que se foi, a oportunidade que passou, porque todas as coisas têm o seu tempo exato para acontecer e o seu prazo de permanência. O que verdadeiramente nos pertence nunca sai definitivamente da nossa história. Pode até ir, mas sempre dará um jeito de voltar.  E, se não voltar, será o melhor que nos poderia ter acontecido. 

Aíla Sampaio