Ele
nunca chegava em horas quebradas ou pronunciava uma frase sem azulejar a
sintaxe; eu detestava formalidades e tinha um português sofrido. Ele
media, somava, ajustava os óculos e guardava um olhar para o encardido
das lembranças; eu fazia tudo por intuição, desordenada e perdida como
todas as mulheres que não nasceram para os serviços de casa. Ele nunca
me disse a que veio, mas eu sempre soube. Todo mistério tem as suas
brechas. Toda fresta tem um olho curioso pra encostar. Tínhamos, os
dois, uma vida só pelo lado de dentro, mas éramos diferentes demais para
ser tão parecidos e conviver sob o mesmo teto!
Aíla Sampaio
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